domingo, 26 de julho de 2009

A Necessidade Última pelo Devoto Puro

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Srila Bhaktisidhanta
Saraswati Thakur
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"Rendição não é apenas uma transação verbal. Rendição significa não apenas render nossas posses mas realizar que as próprias posses são falsas. Eu não sou o mestre de nada. Eu não sou sequer mestre de mim mesmo. Rendição significa dar tudo ao Guru e nos livrarmos da conexão não sagrada com tantas posses, de modo que elas não nos perturbem, sempre sugerindo: "Você é meu mestre", e desse modo desorientando-nos."
– Srila Sridhar Dev-Goswami Maharaj

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Pouco após o desaparecimento físico de Srila Bhaktivinod Thakur, alguns de seus discípulos pensavam que poderiam continuar a avançar espiritualmente apenas por referir-se a seus ensinamentos. Contudo, isso contraria o siddhanta e, portanto, Srila Bhaktisidhanta Saraswati Thakur, seu filho e discípulo, escreveu o seguinte artigo para chamar atenção para esse desvio.

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Aproveitamos a oportunidade oferecida pela Celebração do Aniversário do advento de Thakur Bhaktivinod para refletir a respeito do método correto de obter aqueles benefícios disponibilizados para a humanidade pela graça desse grande devoto de Krishna. Thakur Bhaktivinod foi especialmente bondoso para com aquelas pessoas desafortunadas que estão absortas em todos os tipos de especulação mental. Essa é a doença que prevalece na era atual. Os demais acharyas que apareceram antes de Thakur Bhaktivinod não direcionaram seus discursos tão diretamente aos pensadores empíricos. Eles foram muito misericordiosos para com aqueles que estão naturalmente predispostos a ouvir os discursos a respeito do Absoluto sem serem dissuadidos por argumentos paradoxais de declarados oponentes do Supremo.

Srila Thakur Bhaktivinod aceitou a difícil tarefa de encarar os argumentos perversos dos especuladores mentais com a lógica transcendental superior da Verdade Absoluta. Isso permitiu à média dos leitores modernos lucrar com a leitura e exame de seus escritos. Não está longe o dia em que os valiosos volumes que surgiram da pena de Thakur Bhaktivinod serão reverentemente traduzidos pelos recipientes de sua graça a todas as línguas do mundo.

Os escritos de Thakur Bhaktivinod proporcionam a ponte dourada por meio da qual os especuladores mentais podem com segurança cruzar as águas furiosas das controvérsias empíricas infrutíferas que perturbam a paz daqueles que escolhem confiar em sua orientação para encontrar a Verdade. Tão logo o leitor favoravelmente inclinado se encontre na posição de ser capaz de apreciar a qualidade superior da filosofia de Thakur Bhaktivinod, a plena visão das escrituras reveladas do mundo se abrirá automaticamente diante de seus olhos reabilitados.

Contudo, tem surgido sérios equívocos com respeito à interpretação apropriada da vida e dos ensinamentos de Srila Thakur Bhaktivinod. Aqueles que supõem ter compre-endido o significado de sua mensagem sem ter garantido a graça orientadora do acharya estão inclinados a favorecer indevidamente os métodos do estudo empírico de seus escritos. Existem pessoas que conhecem de memória quase tudo que ele escreveu sem serem capazes de capturar sequer uma partícula de seu significado. Tal estudo não pode beneficiar aqueles que não estão preparados para agir de acordo com as instruções lucidamente transmitidas por suas palavras. Não há possibilidade de honestamente se perderem as advertências de Thakur Bhaktivinod. Portanto, aqueles que estão sendo enganados pelo estudo e exame de seus escritos são desviados por sua própria perversidade obstinada em ater-se ao curso empírico, o qual preferem saborear mesmo em contra de seus conselhos explícitos. Deixemos que essas pessoas desafortunadas analisem mais cuidadosamente seus próprios corações em busca da causa de seus infortúnios.

O serviço pessoal ao devoto puro é essencial para compre-ender o significado espiritual das palavras de Thakur Bhaktivinod. O Editor desta revista, iniciada por Thakur Bhaktivinod, tem tentado chamar a atenção de todos os seguidores de Thakur Bhaktivinod para este que é o ponto mais importante de seus ensinamentos. Não é preciso que tentemos nos situar num patamar de igualdade com Thakur Bhaktivinod. Provavelmente, não nos beneficiaremos com qualquer imitação mecânica de qualquer prática de Thakur Bhaktivinod sob o princípio oportunista de que isso pode ser conveniente para nós.

O Guru não é um mortal equivocado cujas atividades podem ser compreendidas pela razão falível da humanidade não reabilitada. Existe uma linha de demarcação que jamais pode ser ultrapassada entre o Salvador e o salvado. Somente aqueles que são realmente salvos podem conhecer isso. Thakur Bhaktivinod pertence à categoria dos mestres espirituais mundiais que ocupam eternamente uma posição superior.

O atual Editor tem sentido o tempo todo ser seu dever supremo tentar esclarecer o significado da vida e dos ensinamentos de Thakur Bhaktivinod pelo método do ouvir submisso do Som Transcendental dos lábios do devoto puro. O Guru que realiza o significado transcendental de todos os sons encontra-se numa posição de poder servir ao Absoluto sob a direção do Absoluto transmitida através de cada som. O Som Transcendental é o Supremo, o som mundano não é o Supremo. Todo som tem essas aptidões opostas. Todo som revela sua face Divina aos devotos e somente apresenta seu aspecto ilusório ao empiricista pedante. O devoto fala aparentemente o mesmo idioma que o empiricista pedante e iludido que decorou o vocabulário das escrituras. Mas, não obstante a aparente semelhança no desempenho, um não tem acesso à realidade, enquanto que o outro está absolutamente livre de toda ilusão.

Aqueles que repetem os ensinamentos de Thakur Bhaktivinod de memória não necessariamente compreendem o significado das palavras que repetem mecanicamente. Aqueles que podem passar na prova empírica de seus escritos não são necessariamente almas auto-realizadas. Pode ser que desconheçam completamente o verdadeiro significado das palavras que aprenderam pelo método do estudo empírico. Tomemos por exemplo o nome "Krishna". Todo leitor da obra de Thakur Bhaktivinod deve estar consciente de que o Nome Se manifesta nos lábios de Seus servos devotos ainda que Ele é inacessível aos sentidos mundanos. Uma coisa é passar na prova reproduzindo esta verdadeira conclusão dos ensinamentos de Thakur Bhaktivinod, e outra coisa bastante diferente é realizar a Natureza do Santo Nome de Krishna pelo processo transmitido pelas palavras.

Thakur Bhaktivinod não queria que nos dirigíssemos ao recitador mecânico de sons mundanos para obter acesso ao Nome Transcendental de Krishna. Tal pessoa pode estar plenamente equipada com todos os argumentos escritos explicando a natureza do Nome Divino. Mas, se ouvirmos todos esses argumentos de uma fonte morta, as palavras apenas aumentarão nossa ilusão. As mesmíssimas palavras vindo dos lábios do devoto terão um efeito diametralmente oposto. Nosso julgamento empírico jamais pode capturar a diferença entre os dois desempenhos. O devoto está sempre correto. O não-devoto, na forma do empirista pedante está sempre necessariamente errado. Num caso, a Verdade Substantiva e nada a não ser a Verdade Substantiva está sempre presente. No outro caso, é a hipótese aparente
ou desorientadora e nada a não ser a inverdade que está presente. O palavreado pode ter uma mesma aparência externa em ambos os casos. Os versos idênticos das Escrituras podem ser recitados pelo devoto e pelo não-devoto, mas os valores correspondentes dos dois processos permanecem categoricamente diferentes. O devoto está certo até mesmo quando aparentemente cita errado, e o não-devoto está errado mesmo que cite corretamente cada palavra, capítulo e verso das escrituras.

O conhecimento empírico não é o objeto da busca do devoto. Aqueles que lêem as escrituras para coletar sabedoria empírica estarão numa caça ao ganso selvagem. Não são poucas as pessoas facilmente enganadas por sua erudição escritural empírica. Essas pessoas crédulas contam com seus sub-crédulos admiradores. Mas a sociedade de tolos que se admiram mutuamente não escapa do infortúnio pelo peso de seu número devido a perseguirem deliberadamente o curso errado de acordo com as sugestões de nossos seres inferiores.

O que são as Escrituras? Nada mais do que o registro da Mensagem Divina feito pelos devotos puros e que aparece nos lábios dos devotos puros. A Mensagem transmitida pelos devotos é igual em todas as eras. As palavras dos devotos são sempre idênticas às das escrituras. Qualquer significado das escrituras que minimize a função do devoto que é o comunicador original da Mensagem Divina contradiz sua própria declaração ouvida. Aqueles que pensam que o idioma sânscrito em seu sentido lexicográfico é a linguagem da Divindade estão tão iludidos como aqueles que mantêm que a mensagem divina é comunicável através de qualquer outro dialeto falado. Todos os idiomas simultaneamente expressam e ocultam o Absoluto. A face mundana de todos os idiomas esconde a Verdade. A face transcendental de todo som expressa apenas o Absoluto. O devoto puro é que pronuncia a linguagem Transcendental. O Som Transcendental faz seu aparecimento nos lábios de Seu devoto puro. Este é o aparecimento direto e não ambíguo da Divindade. Nos lábios do não-devoto, o Absoluto sempre aparece em Seu aspecto ilusório. O Absoluto se revela no devoto puro em todas as circunstâncias. Se a alma condicionada estiver disposta a ouvir num espírito verdadeiramente submisso, a linguagem do devoto puro pode por si só impartir o conhecimento do Absoluto. Ao escolher emprestar seus ouvidos ao não-devoto, a alma condicionada considera erradamente que o ilusório é o aspecto real. Esta é a razão porque a alma condicionada é alertada a evitar a associação dos não-devotos.

Thakur Bhaktivinod é reconhecido por todos seus seguidores sinceros como possuindo os poderes acima mencionados de ser um devoto puro do Supremo. Suas palavras devem ser recebidas dos lábios de um devoto puro. Se essas palavras forem ouvidas dos lábios de um não-devoto, elas certamente transmitirão uma impressão falsa. Se suas palavras forem estudadas à luz da própria experiência, seu significado se recusará a revelar-se a tais leitores. Suas obras pertencem à categoria das eternas literaturas reveladas do mundo e, para sua compreensão correta, devem ser abordadas através de sua exposição pelo devoto puro. Se não se obtiver a ajuda do devoto puro, as obras de Thakur Bhaktivinod serão mal compreendidas de modo grosseiro por seus leitores. O leitor atento dessas obras descobrirá que está sendo direcionado sempre a atirar-se sob a misericórdia do devoto puro, se não quiser ficar injustificadamente auto-satisfeito pelos resultados ilusórios de seu método de estudo equivocado.

Somente a pessoa com quem o Acharya está satisfeito de transmitir o seu poder encontra-se na posição de ser capaz de transmitir a Mensagem Divina. Isso se constitui no princípio subjacente da linha de sucessão de professores espirituais. O Acharya assim autorizado não tem outro dever a não ser entregar intacta a mensagem recebida de seus predecessores. Não há diferença entre os pronunciamentos de um Acharya e do outro. Todos eles são mediuns perfeitos para o aparecimento da Divindade na Forma do Nome transcendental, Queé idêntico à Sua Forma, Qualidade, Atividade e Parafernália.

A Divindade é Conhecimento Absoluto. O Conhecimento Absoluto possui o carater da Unidade indivisível. Uma partícula de Conhecimento Absoluto é capaz de revelar toda a potência da Divindade. Aqueles que desejam compreender o conteúdo de volumes escritos pelo método aquisitivo em etapas, aplicável ao conhecimento enganador disponível para a mente no plano mundano, estão destinados a se auto-enganarem. Aqueles que são buscadores sinceros da Verdade são os únicos elegíveis a encontrá-lO, no –e através do– método apropriado de Sua busca.

Ouvir as palavras do devoto puro é absolutamente essencial para poder situar-se no rastro do Absoluto. A palavra falada do Absoluto é o Absoluto. É apenas o Absoluto que pode distribuir a Si Mesmo aos constituintes de Seu poder. O Absoluto aparece ao ouvido atento da alma condicionada na forma do Nome nos lábios do sadhu. Esta é a chave de toda a posição. As palavras de Thakur Bhaktivinod direcionam o pedante empírico a descartar seu método e inclinação equivocados no umbral da verdadeira busca pelo Absoluto. Se o pedante ainda escolher carregar seus erros para a Esfera da Verdade Absoluta, ele apenas marcha por um caminho secundário devido a seu estudo arrogante das escrituras. O método oferecido por Thakur Bhaktivinod é idêntico ao objeto de sua busca. O método não é realmente compreendido exceto pela graça do devoto puro. Os argumentos, na verdade, são esses. Mas eles podem apenas corroborar e nunca ser substitutos para a palavra que provém da fonte da Verdade, que não é outra a não ser o devoto puro de Krishna, o Absoluto Pessoal concreto.

O maior presente de Thakur Bhaktivinod ao mundo consiste nisto: que ele trouxe o aparecimento daqueles devotos puros que estão atualmente levando adiante o movimento da devoção pura aos Pés de Sri Krishna por seu serviço espiritual à Divindade o tempo todo. A pureza da alma somente é descritível analogamente por meio da fonte da linguagem mundana. Para a pureza Transcendental perfeita do devoto autêntico do Absoluto, o maior ideal da moralidade empírica não é melhor do que a mais grosseira malignidade. A própria palavra "moralidade" em si é o nome errado e malvado quando aplicado a qualquer qualidade da alma condicionada. A satisfação hipócrita com a atitude negativa é parte e parcela do princípio da densa imoralidade.

Aqueles que pretendem reconhecer a Missão Divina de Thakur Bhaktivinod sem aspirar pelo serviço incondicional àquelas almas puras que realmente seguem os ensinamentos do Thakur pelo método enfatizado pelas escrituras e explicado por Thakur Bhaktivinod de maneira tão eminentemente apropriada às exigências da mentalidade sofisticada da era atual, apenas enganam a si mesmos e a suas vítimas acordes por meio de suas profissões e desempenhos hipócritas. Tais pessoas não devem ser confundidas com os membros genuínos do grupo.

Thakur Bhaktivinod predisse a consumação da unificação religiosa do mundo pelo aparecimento da única Igreja Universal que porta a designação eterna de Brahma Sampradaya. Ele deu à humanidade a garantia abençoada de que todas as Igrejas teístas em breve se fundirão numa única e terrena comunidade espiritual pela graça do Supremo Senhor Sri Krishna Chaitanya. A comunidade espiritual não está circunscrita às condições do tempo, espaço, raça e nacionalidade. A humanidade tem estado ansiando por este evento divino distante por longas eras.

Thakur Bhaktivinod disponibilizou a concepção em sua forma espiritual praticável para o empiricista de mente aberta que está preparado para passar pelo processo de iluminação. A pedra chave do Arco foi assentada, o que concederá o abrigo necessário a toda animação desperta sob seus amplos braços envolventes. Aqueles que impensadamente permitiriam que seu orgulho vazio de raça, pseudo-conhecimento ou pseudo-virtude ficasse no caminho desta consumação há tanto esperada, terão de dar graças apenas a si mesmos por não terem sido aceitos na sociedade espiritual de todas as almas puras. Essas palavras plenas não precisam ser mal representadas pelas pessoas arrogantes que estão cheias da vaidade da ignorância empírica, como os pronunciamentos do sectarismo agressivo. Os pronunciamentos agressivos da Verdade concreta são a necessidade gritante atual de silenciar a propaganda agressiva de inverdades específicas que estão sendo difundidas por todo o mundo pelos prega-dores de invencionices empíricas para melhoramento do penoso lote de almas condicionadas. A propaganda empírica se reveste da linguagem da abstração negativa para iludir aqueles que estão envolvidos na busca egoísta de desfrute mundano.

Mas existe uma função positiva da alma pura que não deveria ser perversamente confundida com qualquer forma utilitária de atividade mundana. A humanidade precisa dessa função espiritual positiva, a qual é absolutamente ignorada pelos impersonalistas hipócritas. A função positiva da alma harmoniza as demandas de extremo egoísmo com aquelas de extrema auto-abnegação na sociedade das almas puras, mesmo neste mundo mundano. Em sua forma concreta e realizável, a função é perfeitamente inacessível à compreensão do empirista. Sua concepção imperfeita e desorientadora fica disponível apenas para a alma condicionada que estuda as escrituras sem ser auxiliada pela graça sem causa dos devotos puros do Supremo.


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Ensaio publicado pela primeira vez na revista The Harmonist, em dezembro de 1931, vol. XXIX, Nº 6

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